2 de dezembro de 2011

A moça

Quando ela chegou, eu devia ter uns onze anos e Carol uns nove. Ficamos acanhadas de início, mas queríamos mostrar-lhe toda a casa e onde ficava cada coisa. Era uma moça simples da zona rural de uma cidade próxima, foi o que ficamos sabendo. Negra, de baixa estatura, não devia ter mais que vinte anos. Bonita a danada. Gente fina nas primeiras observações. Sorria com tamanha facilidade; com qualquer coisa mesmo. Era toda bobinha, engraçada ela. Acho que nunca tinha visto um computador, apesar de saber que existia. Certa vez, numa das nossas viagens, ela experimentou o elevador. Ficou nervosa, tonta, cheia de piriri. Não queria saber de elevador, só de escada. Ah sim, e a escada rolante? Ficou apaixonada. E depois ela se acostumou com o elevador também, não queria mais escada. Uma moça boa, trabalhadeira, confiável – minha mãe dizia. E era mesmo, não se cansava não, mas reclamava mais que minha avó nos dias de bagunça.
Chamava-se Elizabete. Elizabete de Jesus. E, ao contrário do que eu pensava, tinha mais de vinte anos, mas não aparentava não. Virou uma pessoa da família de tanto tempo que passou com a gente. Na cozinha não era lá essas coisas toda, mas, vez ou outra, inventava umas “artes” que saiam bem gostosas. Foi ficando moderna, vivia inventando modelos de roupa e me pedia pra dar uma olhada em uns na internet. Tinha um sonho: seria costureira.
Um dia eu estava pela rua e vi num poste um cartaz anunciando um curso de costura. Anotei o número e passei pra ela. Animou-se toda. Foi lá, se inscreveu, começou. De início eu não colocava muita fé não porque era desastrada a doidinha. Mas em menos de um mês já estava “craque”, cheia de planos e fazendo uma roupa atrás da outra com um capricho pros deuses. Determinada, arteira, cheia de aspirações; por isso meu pai e minha mãe fizeram uma vaquinha e compraram-lhe uma máquina. Aí pronto, começou a se achar a estilista. Costurava pra todo mundo aqui em casa e pra as amigas. Um sucesso. Depois de um tempinho começou com um papo de que ia trabalhar em fábrica. E lá foi ela, mudar de vida.

Texto para a 166ª semana do Blorkutando.

2 comentários:

  1. Oi, Z, boa tarde!!
    Duas coisas. Primeira: já tentei de mil e quinhentas formas seguir você, mas simplesmente meu ícone do blog não entra na sua lista... Quer dizer, oficialmente eu não a estou seguindo; mas, extraoficialmente, estou... Durma-se com uma coisa dessas...
    Segunda: o texto é uma obra-prima em todos os sentidos. Especialmente na abordagem perfeita do desenrolar do relacionamento e do progresso de Elizabete de Jesus naquilo que identificou como seu talento. Todos nós temos talentos, mas poucos o descobrem, e menor número ainda o desenvolve.
    Amei.
    Um beijo carinhoso
    Leo
    PS - Um feliz Natal a você, seus familiares e a todos a quem ama. Que em 2012 possamos estreitar mais nosso conhecimento e amizade. Quem sabe, até, eu descubra seu nome!! Mas, se não descobrir, 2013 está aí...

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